Sentado na última cadeira ao lado da janela, Lincoln Aparecido Silveira Lopes, de 52 anos, está compenetrado na leitura de O Céu Está em Todo Lugar, de Jandy Nelson. Frequentador assíduo da Biblioteca Monteiro Lobato, no Centro, chega ao local assim que abre e só vai embora quando o expediente encerra.
“Quando leio não me sinto sozinho”, diz Lincoln/Fotos: Fábio Nunes Teixeira (PMG)
Tido como um sujeito educado, não é de muitas palavras. Mas, quando se propõe a falar, revela que sua jornada diária na biblioteca funciona como uma espécie de refúgio. Ele diz ler um livro por dia: são 300, 500 páginas. “Se aqui (a biblioteca) ficasse aberto até mais tarde, eu ficaria mais também”, diz o homem, que hoje tem como endereço o albergue da cidade.
Filho de um gráfico e de uma dona de casa, Lincoln conta que é guarulhense, tem duas irmãs e morava com os pais no Bom Clima. Sempre gostou de ler. “Na minha casa tinha uma biblioteca e eu lia de tudo”.
Lincoln diz ler um livro por dia em suas jornadas literárias
Com o falecimento dos pais, a casa onde ele vivia foi vendida. “Faz dez anos que eu vim morar nas ruas. Ficava em praças, no Bosque Maia. Há três anos, durmo no albergue”.
E as irmãs? “Cada uma tem sua família”, informa, sem esboçar ressentimentos. Algum trabalho? “Trabalhei em gráfica, mas já faz muito, muito tempo. Agora eu só faço bicos”.
Contracapa do livro traz mensagem acalentadora. “Eu recomendo”, diz
Solteiro e sem filhos, Lincoln gosta de livros policiais. Porém, quando chega à Monteiro Lobato não tem uma obra em mente. Escolhe um título na hora. “Quando leio, não me sinto sozinho”, comenta, recomendando a leitura do “romance adolescente”, O Céu Está em Todo Lugar, já a poucas páginas do final.
Naquele refúgio silencioso à beira da janela, o céu, para Lincoln, parece estar mesmo na Biblioteca Monteiro Lobato.
Fonte: Prefeitura de Guarulhos