Se os sistemas Cantareira e Alto Tietê entrarem em colapso este ano, como vem sendo previsto até por autoridades do governo de São Paulo, a cidade de Guarulhos vai ficar totalmente sem água e seu caso se repetirá em outros municípios da Grande São Paulo. “Se o Cantareira entrar em colapso, não teremos alternativa, pois ele é 50% do abastecimento da região metropolitana; se esgotar a fonte, não há como suprir”, afirma Afrânio Sobrinho, superintendente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) do município, autarquia que promove a distribuição de água na cidade, e que desde fevereiro passado enfrenta um corte de 20% no suprimento da Sabesp.
Sobrinho acredita, porém, que antes disso as autoridades estaduais, a quem compete a gestão das águas, tomarão medidas mais drásticas para preservar os reservatórios, cujos níveis caem a cada dia. Ontem (14), o Cantareira e o Alto Tietê, as duas reservas mais vulneráveis, estavam com respectivamente 6,3% e 11,1% de capacidade, números menores do que no dia anterior, à razão de 0,1 e 0,2 ponto percentual respectivamente, apesar de o governo ter reduzido o volume captado nesses sistemas por determinação da Agência Nacional de Águas (ANA).
“O que não temos é indicativo de que a recuperação se dê a contento. Os índices de chuvas são inferiores às médias históricas. Os reservatórios têm sido bastante exigidos”, diz Sobrinho. “Técnicos da previsão do tempo apontam perspectivas que não são o que gostaríamos. Então, vamos buscar meios de conter o problema, pois parece que estamos chegando no limite dos esforços para que o processo se dê naturalmente”, afirma, prevendo intervenções mais fortes nos próximos meses.
No caso de Guarulhos, que desde fevereiro do ano passado convive com rodízio no fornecimento à razão de um dia com água e um dia sem, envolvendo 100% de sua população de 1,3 milhão de habitantes, o agravamento da crise deverá significar um dia com água e dois dias sem.
Assim como Santo André, São Caetano e Mauá, que também respondem pela distribuição de água, a situação de Guarulhos é pior pelo fato de a Sabesp sustentar o corte no fornecimento para as cidades que operam com autarquias. Sobrinho diz que faltam também informações confiáveis para estabelecer um plano de ação. “O que temos buscado, de uma forma geral, são informações mais precisas, porque os especialistas têm divergência de opinião. Queremos ter clareza sobre quais serão os impactos. Ainda não temos conseguido isso de forma clara, a divulgação é parcial, estamos apreensivos com os impactos.”
Segundo o superintendente, a prefeitura de Guarulhos tem feito campanhas de rádio e os funcionários têm ido para as ruas para conversar com as pessoas. “É preciso conscientizar sobre a importância da economia. Outra coisa importante é diminuir as perdas do nosso procedimento. E também buscamos perfurar alguns poços e solicitamos outorga para poder explorar outros mananciais”, afirma.
As medidas, no entanto, são limitadas. Para atenuar a crise foi feita uma dezena de poços artesianos na cidade; alguns deles já estão produzindo e outros estão sendo interligados à rede de distribuição. “Também adotamos água de reúso para usos menos nobres, como a lavagem das ruas”, afirma Sobrinho. “Mas os poços possuem capacidade limitada; eles produzem 20 litros por segundo, o que é pouco em face à nossa necessidade de 4 mil litros por segundo para voltar à situação de antes da crise”, explica.
Ele destaca que nessa situação a demanda já era represada, pois a necessidade do município é da ordem de 4,6 mil litros por segundo e atualmente tudo o que tem são 3,2 mil litros por segundo. O SAAE também produz água, mas essa produção representa apenas 13% da necessidade do município.
Fonte: Rede Brasil Atual