Pai do vocalista dos Mamonas Assassinas mantém acervo da banda

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Um sítio de aproximadamente 5 mil metros quadrados, em Itaquaquecetuba (SP), abriga objetos e lembranças da extinta banda Mamonas Assassinas. O grupo de rock agitou o Brasil com um sucesso meteórico nos anos de 1995 e 1996, até que um acidente aéreo matou todos os cinco integrantes da banda. No imóvel na região metropolitana de SP estão guardadas fantasias de super-heróis, vestidos, perucas e pantufas usadas pelos integrantes durante os shows, além de pôsteres, disco de ouro, platina, dupla platina, quadros e fotos.

O acervo é mantido por Hidelbrando Alves, de 66 anos, pai de Alecsander Alves Leite, o vocalista Dinho, que tinha 24 anos quando o jato Learjet caiu na Serra da Cantareira. Segundo ele, o local que ficou conhecido como “Chácara dos Mamonas” já foi palco de festas e comemorações durante os sete meses de sucesso da banda, “Nós [família] e os meninos [músicos] passamos o Ano Novo de 1995 para 1996 aqui. Foi um dia inesquecível. Todos eles se divertindo no churasco e no futebol. Compramos essa chácara porque o Dinho quis, na época”, diz o pai do vocalista.

O espaço não pode ser visitado pelo público. Mesmo assim, Alves abriu as portas do sítio à reportagem do G1 e mostrou todos os objetos que mantém no imóvel. A esposa dele, Célia Alves não pôde comparecer. “Ela está viajando”, justificou o pai.

O sítio fica no bairro Scaffid II, quase no limite com a cidade de Arujá. São 26 quilômetros do Parque Cecap, em Guarulhos, onde Alves mora, até a propriedade rural em Itaquaquecetuba.

O pai de Dinho diz que o imóvel foi comprado em setembro de 1995. “O Bento [guitarrista da banda] morava neste bairro e o Dinho vivia na casa dele. Certa vez, meu filho viu que este sítio estava a venda e cismou em comprá-lo, ele gostava daqui”, explicou Alves.

Logo na entrada, ao lado do portão, uma pequena placa com a descrição “Chácara dos Mamonas”. Nas ruas estreitas e asfaltadas no entorno da chácara quase todo mundo sabe onde fica a casa que já foi frequentada pelos integrantes da banda que cativou o Brasil e se transformou em fenômeno musical na década de 90.

Na parede da sala são 16 quadros com fotos, matérias de jornal, quadros e pôsteres. Um mergulho no passado. “Resolvemos trazer esses objetos para cá porque moramos em apartamento e estávamos sem espaço lá em Guarulhos. De vez em quando aparece um fã e nós acabamos abrindo o sítio. Já recebi uma banda cover dos Mamonas. Eles ficaram hospedados uns dias aqui”, lembra o pai. Boa parte do figurino do grupo ficou com os pais do Dinho. “Os instrumentos musicais dos Mamonas estão com a família do Bento”.

As lembranças na parede são resultado do que o grupo representou para a música brasileira e a indústria fonográfica na época. Além do sucesso no Brasil, naquele ano, Dinho, Sérgio e Samuel Reoli, Bento e Julio Rasec, haviam alcançado a venda de 80 mil discos em Portugal. Ainda em meio às lembranças na parede da sala há uma chamada na capa de uma revista norte-americana especializada em música, falando sobre o sucesso da banda.

Atualmente o sítio passa por reformas. Alves conta que está reconstruindo a piscina. “Eu não venho com muita frequência aqui, mas tem os caseiros que cuidam do sítio”, conta. A quadra onde os Mamonas sempre jogavam futebol, segundo o pai disse várias vezes durante a entrevista, está um pouco deteriorada por causa da ação do tempo. No sítio ainda há animais. Por lá vivem cinco cachorros, quatro bodes e uma família de gansos. “Minha esposa gosta de criar estes animais”, explica.

 

Perucas e pantufas

Além da sala, a propriedade ainda possui dois quartos, banheiro e cozinha. Em um dos aposentos, os pais de Dinho guardam várias fantasias que foram usadas pelo grupo durante as apresentações Brasil afora. Afinal, essa era uma das marcas da banda: subir ao palco com roupas de super-heróis e personagens infantis.

O figurino fazia parte do escracho e das coreografias engraçadas. A pedido da reportagem, as peças de roupas foram colocadas sobre uma cama de casal. E lá estava o vestido usado por Dinho quando interpretava a canção Robocop Gay, a camiseta do He-Man e as pantufas do personagem Pernalonga. “Lembro que eram eles mesmos que inventavam tudo isso”, conta o pai sorrindo.

Neste momento, Alves começou a recordar e contar histórias. Entre as fantasias, havia uma camiseta branca com o nome da banda. Perto da gola, na parte da frente, um autógrafo de Dinho. Mesmo com o passar dos anos a tinta de caneta ainda estava marcada no tecido de algodão: “É só mexer com essas coisas que as lembranças voltam. Eu adoro esse chapéu verde e amarelo [disse segurando]. Lembro do Dinho com ele na cabeça certa vez quando fui buscá-lo no aeroporto”, contou o pai sorrindo sentado em uma cama ao lado.

Os Mamonas morreram na noite de um sábado, dia 2 de março de 1996, após o jato em que viajavam ter arremetido o pouso no Aeroporto Internacional de Guarulhos e colidido em seguida com a Serra da Cantareira. Alves diz que as lembranças vieram à tona nas últimas semanas com a morte do governador Eduardo Campos, que também foi causada pela queda de um avião.

O jato ocupado pelo político caiu em Santos, no litoral Sul de São Paulo. “Não tem como não lembrar. Volta tudo à mente e fica como se tivesse acontecido com meu filho ontem. Acidente é acidente. Me lembro do governador dando entrevista na televisão no dia anterior. Eu não acredito em destino, mas no caso da morte do meu filho, me recordo que o Julio [tecladista] previu o acidente ao contar um sonho que teve e, naquele dia, antes de ir para Brasília, ele chegou em cima da hora ao aeroporto”, explica pai de Dinho.

 

Café e pipoca

A tarde caiu e o tempo começou a esfriar. Um café foi providenciado por uma caseira a pedido do Sêo Hidelbrando, que interrompeu a entrevista para vestir uma blusa. Da cozinha também vinha um aroma de pipoca feita na panela. A entrevista migrou para o último cômodo da casa. Com o clima de descontração, Alves começou a mostrar mais seu lado humorístico, característica que cativou o Brasil por meio do filho Alecsander Alves, o Dinho. “Meu celular é bem antigo. Não tira foto e nada. Olha só [apontando o aparelho]. Ele é tão velho que quando eu o esqueço nos lugares as pessoas me chamam rápido para devolver”, disse rindo.

Se estivesse vivo, Dinho teria 43 anos. “Ele teria alguns cabelos brancos e filhos para nos alegrar. Tenho certeza. E é assim que ele ficou em minha memória. Lembro somente da alegria do meu filho. Ele era daquele jeito. Não havia tristeza para ele”, diz. Atualmente, Alves trabalha como corretor de imóveis e mora em Guarulhos. “Acredita que já me chamaram para ser candidato político? Mas eu nunca aceitei. Não gosto. Eu acredito em Deus e em mim mesmo”, finaliza.

 

Fonte: G1