O esporte? Basquete. O cenário? Uma região periférica cercada de controvérsias sociais. Na quadra, professores inspirados e engajados com o crescimento pessoal de cada um dos atletas.
O que mais se parece com um roteiro hollywoodiano, no melhor estilo “Treino para a vida” (EUA, 2005, 136 min.) é, na verdade, parte do dia a dia de professores e alunos da equipe de basquete do Centro Social e Esportivo João Carlos de Oliveira (João do Pulo).
O Centro Esportivo oferece a jovens entre 8 e 14 anos a prática de esportes coletivos. Por ali já passaram muitas centenas de meninos e meninas em busca de um sentido especial para suas aspirações. Muitos alcançaram medalhas, como Luana Petry Moreira Brixner, atleta da Federação Paulista de Basquete, que em 2014 jogou pelo SESI Cocaia contra o Bradesco.
Muito mais do que suar a camisa
Motivação. Liderança. Regras. Disciplina. Valorização do indivíduo. Confiança. Garra. Determinação. Superação. Personificando na vida real a figura do treinador Carter, do longa metragem americano, o professor de Educação Física Flávio Arão da Silva Junior tem um grande desafio: fazer os alunos acreditarem em seu próprio potencial.
Professor das turmas de basquete no João do Pulo desde 2012, Flávio já testemunhou inúmeras histórias de jovens que tiveram suas vidas transformadas pela prática do basquete, lhes ensinando valores importantes, como respeito e responsabilidade.
“Temos orgulho em dizer que nossos meninos seguem no caminho do bem e por mais que, muitas vezes, estejam inseridos em contextos de vulnerabilidade, eles conseguem superar isso por meio da prática esportiva”.
O atleta Ryan Henrique Martins da Costa conta que a decisão de jogar basquete atendeu a uma vontade de jogar, mas que no fundo ele não tinha certeza do que exatamente: “eu ficava direto em casa, não sabia jogar futebol, não sabia jogar nada, então decidi aprender basquete”.
E pelo visto deu certo. Dono de belas madeixas encaracoladas, livremente inspiradas no jogador americano Deandre Jordan, do qual confessa ser fã, Ryan tem uma meta: jogar profissionalmente. Aos 13 anos e com 1,72 de altura, o jovem conta que já treina há 5 anos no Centro Esportivo João do Pulo.
Nos treinos realizados as segundas, quartas e sextas, o basquete é trabalhado de modo fragmentado e todo o fundamento dessa prática esportiva engloba cerca de 70% das aulas. “Os outros 30% são dedicados ao jogo propriamente dito, para que eles possam colocar em prática aquilo que experimentaram no treino”, explica o professor Flávio.
Em meio a inúmeras histórias de superação, o professor Flávio não perdeu a dimensão de quantos meninos e meninas conheceu, alguns com dificuldades em se relacionar com o outro, outros absorvidos pela timidez e que, agora, dão passos importantes rumo a sua autonomia e constituição de suas identidades.
Sol e brisa: nossos companheiros do dia a dia
“Eu vim para treinar jogadores de basquete, e os senhores se tornaram alunos; eu vim para ensinar meninos, e os senhores se tornaram adultos”.
Baseado uma história real, a frase retirada de uma das cenas mais emocionantes do filme, na qual o treinador Carter motiva os jogadores, endossa as mesmas doses de emoção encontradas no Centro Esportivo João do Pulo.
Lenilda de Siqueira Torres, professora de Educação Física nesse espaço há 10 anos, explica que o espaço oferece outras modalidades de jogos coletivos além do basquete, como o voleibol e futsal, para crianças e jovens entre 8 e 14 anos.
Inspiradora e tranquila, ela conta que o objetivo dos treinos da equipe de basquete é fomentar a participação desses jovens em atividades físicas prazerosas.
“Diferente de algumas modalidades esportivas que potencializam o rendimento individual, o treino de basquete foca no coletivo, na busca do todo”.
Ela explica também que um dos critérios de participação é a frequência nos estudos. Assim, os treinos devem acontecer no contra turno do período escolar no qual o esportista está matriculado.
Nota alta ou baixa não impede que o aluno participe, mas os treinadores já observaram que, à medida que começam a praticar basquete, os alunos melhoram suas notas.
Esse é o caso do atleta Yago Oliveira da Silva, de 11 anos, aluno do 6º ano da Escola Estadual Profª Odete Fernandes Pinto da Silva. Yago treina no João do Pulo há 6 meses, mesmo tempo em que ele e sua família vieram morar em Guarulhos, vindos de Caruaru, município localizado a oeste da capital pernambucana.
“Estou gostando muito das aulas, decidi fazer basquete porque gosto da matemática do jogo, não sou muito bom nessa disciplina na escola, mas estou começando a melhorar”.
Ainda mais inspirador, o bate papo com André Tamandaré Dias, de 15 anos, que treina basquete desde 2012, comprova que todo o trabalho feito pelos treinadores vale a pena.
“Para praticar basquete, você tem que ser inteligente, você tem que calcular força, espaço, contato, distância; o basquete tem um espaço menor de atuação, então você tem que ser rápido e estar atento”.
Do aprendizado na quadra para o que eles levarão para toda a vida, esses jovens atletas vão se tornar homens de bem, vão estudar, se profissionalizar, formar uma família, esse é o retorno positivo que professores como Flávio e Lenilda têm acompanhado com muita satisfação.
Serviço
As turmas de basquete do Centro Social e Esportivo João Carlos de Oliveira (João do Pulo) treinam as segundas, quartas e sextas em três horários: das 8h às 10h, das 14h às 15h30, e das 15h30 às 17h. Para praticar, é preciso ter entre 8 e 14 anos e estar matriculado no ensino regular.
Para mais informações, ligue: 2087-6850.