Os pais que procuraram atendimento para os filhos ontem no Hospital Municipal da Criança e do Adolescente (HMCA) chegaram a esperar seis horas por atendimento. Com a superlotação, as calçadas viraram extensão da sala de espera.
Por volta das 15h, a reportagem flagrou ao menos 15 pessoas com crianças, incluindo bebês, sentadas na calçada, uma vez que não havia mais lugar para acomodação na recepção. Neste horário estavam sendo atendidos pacientes que deram entrada às 10h.
Desespero – Sem opção, pacientes esperavam por atendimento do lado de fora do hospital; menina chega de maca (Foto: Lucas Dantas)
O forneiro Josafá da Silva estava no hospital desde 00h40 com o filho de 1 ano e cinco meses. “Meu filho só passou pela triagem, que antecede a consulta médica, às 3h”, contou o pai, indignado. Segundo Silva, o atendimento médico para o filho ocorreu no início da manhã. Às 15h ele ainda aguardava o resultado de exames da criança. “Isso não é vida. Somos todos trabalhadores e não merecemos isso”, desabafou.
Com a filha de dois anos nos braços, a ajudante geral Dara Ribeiro contou que foi informada de que o atendimento à menina, que estava com crise de bronquite, só aconteceria início da noite. “Cheguei por volta das 11h e vou ter que esperar, pois não tenho para onde ir.” Os pais de um bebê de 20 dias gripado desistiram do atendimento por causa da espera.
A Secretaria de Saúde informou que 455 fichas foram abertas de 0h até as 18h de ontem, quando seis médicos atendiam no local. Não houve menção quanto aos motivos da demora acima de seis horas para as consultas serem feitas.
Pais dizem não ter pediatra em bairros
Para a população a situação se deve à ausência de médico pediatra em outras unidades de regiões da cidade, o que culmina na alta procura pelo hospital, no Centro.
A vendedora Suzy Ferreira contou à reportagem que na noite de domingo entrou em contato por telefone com a UPA São João, o Hospital Pimentas Bonsucesso e os PAs Alvorada, Maria Dirce e Dona Luiza, mas não havia pediatra. “A única saída for procurar o Hospital da Criança”, disse a vendedora, que chegou na unidade às 11h com a filha de 6 anos com fortes dores de estômago.
No caso da operadora de caixa Simone Pereira, houve tentativa de passar a filha de 16 anos, que estava com fortes dores de cabeça e visivelmente abatida, em consulta no PA Paraíso. “Fiquei lá mais ou menos três horas e o médico não chamava. Resolvi tentar o hospital, mas continuei sem atendimento, três horas depois de fazer a ficha”, mencionou a mãe, que apoiava a filha com dificuldade em andar.
A reportagem ouviu pessoas de regiões como Presidente Dutra, Bonsucesso, Recreio São Jorge, Cumbica e Taboão, que se queixaram de não conseguirem atendimento de emergência nas unidades dos bairros. A Secretaria de Saúde alegou que todas as unidades mencionadas pelos pais estão atendendo normalmente, com exceção do Hospital Pimentas, restrito aos casos graves.
Fonte: Folha Metropolitana