Apesar da igualdade de gênero ser um tema debatido pela sociedade contemporânea, as medidas práticas ainda são pouco executadas, inclusive no ambiente escolar. De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Fórum Econômico Mundial, no Brasil, serão necessários 95 anos para que mulheres e homens tenham uma situação de plena igualdade.
Para Silvia Moraes, professora de Pedagogia da Universidade UNG, a construção dos conceitos de gênero está intimamente ligada as experiências da infância e adolescência do ser humano. Sendo assim, tanto a escola como a família têm papéis fundamentais para a produção desta equivalência. Moraes explica que a escola deve questionar os modelos sociais para contribuir com uma organização mais justa. Afinal, conceitos sobre os papéis dos homens e das mulheres são culturais, alterados de acordo com a localidade e a época, não tendo consistência genética. Ou seja, não há motivos, além de comportamentais, para a concentração de homens em cargos de chefias, desigualdade salarial para a execução da mesma função, divisão do espaço doméstico ou até mesmo violência contra a mulher.
Para a desconstrução desses estereótipos, Moraes relata simples condutas que desencadeiam em eficientes resultados. Educadores do ensino infantil e fundamental devem oferecer oportunidades para que as crianças possam brincar, desenvolver-se e expressar-se, independente de seu sexo, por exemplo: deixar disponível todos os tipos de brinquedos; ler histórias em que personagens femininos e masculinos são sensíveis, audaciosos, corajosos, demonstram medo e outras características; fazer uma boa roda de conversa sobre o tema; destacar a importância do respeito ao outro; evitar padrões de comportamento, beleza ou formas de pensar; e organizar os espaços para uma ocupação igualitária, sem segregações por gênero.
Já com os adolescentes, é importante discutir o assunto para que eles possam desenvolver as próprias reflexões, sendo capazes de concluir por si mesmos o aprendizado. “Pergunte a eles ou peça pesquisas sobre como a sociedade poderia romper com as barreiras que evidenciam as distorções de gênero. Faça-os pensar no problema e apontar soluções. Desta forma, estamos contribuindo para a formação de protagonistas”, diz Moraes.
Para a condução desta linha de raciocínio seria interessante, segundo a professora, que os educadores apresentassem em sala, como os gêneros são vistos em outras culturas e em diferentes períodos, assim os alunos eliminarão a falsa ideia de condição natural. Apresentar também referências positivas das identidades em todas as áreas, seja na ciência, cultura, arte, pesquisa ou esporte, destacando que as mulheres podem ocupar os diferentes espaços sociais.
“Em uma situação de violência ou bullying aproveite o momento e problematize. Traga os conteúdos preconceituosos da suposta brincadeira e proponha uma discussão. Faça intervenções sem que suas verdades sejam colocadas como absolutas. Produza respeito entre os pontos de vista, mas seja firme ao indicar o porquê do preconceito e como a justiça pode se fazer presente nesses casos”, aconselha a professora. Como mencionado pela professora, a família junto com a escola constrói os valores e visões desses cidadãos em formação. Sendo fundamental a contribuição delas para a desconstrução dos estereótipos. No entanto, muitos pais já delimitam os papeis de seus filhos, desde a gestação, na simples escolha dos componentes para o enxoval e na forma como interagem com o bebê. Meninas são idealizadas como princesas frágeis e carinhosas, enquanto meninos como desbravadores e arteiros. “Por que não apresentar um mundo aberto para eles?”, questiona ela.
A docente indica que desde pequenos os filhos devem desenvolver o uso da força, organização, argumentação, além das possibilidades de um imaginário sem gênero. Sem deixar de valorizar e respeitar seu corpo e expressar emoções como choro, tristeza e medo. “Deixe que as crianças experimentem o mundo de forma igual. Estejam ao lado deles como um porto seguro, zelando pelas escolhas conscientes que farão na vida adulta”, explica.