Enquanto muitos paulistanos encerram o expediente no fim de tarde de uma sexta-feira, em um galpão do bairro da Bela Vista um grupo de atores ensaia exaustivamente “O Musical Mamonas”. O objetivo é um só: conquistar os fãs da banda Mamonas Assassinas e também apresentar a história do grupo às novas gerações.
Autorizado pelos familiares, o espetáculo contará a saga da banda, que fez sucesso meteórico entre 1995 e 1996, ano em que os cinco rapazes de Guarulhos morreram no auge, em um desastre aéreo, após venderem 3 milhões de discos, deixando o Brasil atônito e em luto.
A estreia está marcada para 11 de março, no Teatro Raul Cortez, em São Paulo, e com previsão de turnê pelo Brasil. Para que tudo esteja afinado, os ensaios acontecem seis dias da semana, oito horas por dia, entre 14h e 22h.
O orçamento do musical gira em torno de R$ 3 milhões e gera cerca de 70 postos de trabalho. Entre eles, estão os cinco músicos e 15 atores escolhidos entre 1.500 candidatos.
A irreverência que foi a marca da banda se repete nos cinco escolhidos para protagonizar o musical: Ruy Brissac (Dinho), Yudi Tamashiro (Bento), Adriano Tunes (Júlio), Arthur Ienzura (Sérgio) e Elcio Bonazzi (Samuel). E o assédio já começou, com fãs do Mamonas de todo o Brasil escrevendo para os jovens.
Semelhança, assédio e estudo
O mais requisitado até o momento é Ruy Brissac, 26, paulista de Bom Jesus dos Perdões que, muito antes de o musical existir, já costumava ser parado na balada por conta da semelhança com Dinho. “O pessoal pedia para tirar foto”.
Assim como o vocalista do Mamonas, Brissac também é bem-humorado. “Sempre fui brincalhão desde criança. Isso fez com que eu me identificasse bastante com ele, essa coisa de ser meio palhaço. Fazer este musical é uma responsabilidade grande. Estou estudando muito”, conta. Questionado sobre ser o galã da trupe, tal qual Dinho era do Mamonas, ele responde, fazendo graça: “Olha, como modéstia pouca sempre foi bobagem, sim, o Dinho é o galã, e é óbvio que eu sou o galã do musical”, diz, gargalhando.
Aos 23 anos, Yudi Tamashiro será o guitarrista Bento. O ex-apresentador infantil do SBT conta que os Mamonas estão ligados ao início de sua trajetória na televisão. “Comecei imitando os Mamonas no programa do Raul Gil”, recorda, contando que chegou aos testes “muito seguro, pois já sabia todas as músicas”. Por isso, comemora: “Este é um momento importante na minha carreira”.
Adriano Tunes, 30, que viverá o tecladista Júlio, também tem no musical “um divisor de águas”. “É o primeiro grande espetáculo da minha vida e ainda com o peso dos Mamonas”, declara. O ator define seu personagem como “o intelectual da turma, o mais centrado, que apaziguava as brigas”. E lembra que, nos shows, Júlio era performático. “Como esquecer do Júlio fazendo a Maria no ‘Vira’?”.
Elcio Bonazzi, 27, interpreta o baixista Samuel e conta que está aprendendo a tocar o instrumento. “Nós cinco estamos pesquisando até agora. Cada um tinha uma personalidade muito importante dentro do grupo. Fiquei feliz de pegar o Samuel, porque ele era um cara muito boa praça, muito de bem com a vida. Sinto essa energia boa”, revela.
Único carioca no grupo, Arthur Ienzura, 25, se hospedou na casa do irmão, que mora em São Paulo, para fazer as audições. “Fiquei estudando bateria para fazer o Sérgio Reoli. Ficava praticando e me pediram para tocar nas audições”, comemora. Sobre a força do Mamonas, ele define: “Eles fizeram sucesso porque eram verdadeiros. Eles não tinham medo de ser julgados por nada. Eram crianças com o poder do microfone na mão”.
Memória da infância e convite tentador
O diretor José Possi Neto está no comando do espetáculo, que tem texto de Walter Daguerre e idealização dos produtores da Miniatura 9, Rose Dalney, Márcio Sam e Túlio Rivadávia. Rivadávia chegou a ver um dos últimos shows do Mamonas, em Divinópolis, no interior de Minas. “Meu tio era o produtor e vi a apresentação em cima do palco. Era bem pequeno, mas tenho até hoje a memória afetiva daquele momento”, conta.
O ritmo ágil dos Mamonas estará presente no palco, no que depender das coreografias de street dance criadas por Vanessa Guillen. Miguel Briamonte faz a direção musical, enquanto Nelo Marrese foi convocado para fazer o cenário, Wagner Freire, a luz, Anderson Bueno, a caracterização, e Fábio Namatame, os figurinos.
Possi revela que o convite para dirigir a obra o fez desistir de tirar um “primeiro semestre sabático”, após o cansaço de capitanear quatro espetáculos em 2015, trabalhando com nomes como Claudia Raia, Miguel Falabella e Christiane Torloni. “Estava decidido a descansar, mas fui pego quando li a primeira cena, escrita pelo Walter Daguerre”, explica.
“A peça conta como a primeira banda, Utopia, que não fez sucesso, se transformou no grupo Mamonas Assassinas e conquistou todo o Brasil. Os Mamonas ainda estão vivos no inconsciente coletivo do brasileiro”, acredita o diretor, que viu centenas de vídeos do grupo na internet para entrar no clima. “Os Mamonas são um atestado de liberdade e irreverência do brasileiro, capaz de fazer piada da própria miséria. Eles são herdeiros da chanchada”, define Possi.
Serviço
“O Musical Mamonas”
Quando: qui., sex., sáb., às 21h; dom., às 18h. De 11 de março a 25 de maio de 2016
Onde: Teatro Raul Cortez – Rua Dr. Plínio Barreto, 285, Bela Vista, São Paulo
Informações: 2626-5286
Quanto: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia-entrada)
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos
Fonte: UOL