Por trás da política, cultura e atualidade japonesa

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A visão geral que muitos brasileiros têm sobre o Japão se restringem ao que mais se popularizou, como as comidas diferentes da ocidental, as animações de sucesso que já chegaram até a ganhar o Oscar ou traços culturais que, muitas vezes, ficam restritos apenas ao passado, na época dos samurais quando muitos japoneses usavam quimonos nas ruas do período Edo.

 

Os 10 bolsistas em Kashiwanoha smart city

 

Mas será que o Japão continua sendo apenas isso? Com certeza, após tantos séculos de história e tecnologia, o Japão deve ter mais a oferecer que apenas os animes ou o aspecto histórico e gastronômico. E isso é o que foram descobrir dois jovens paulistas no início do ano, quando embarcaram para as terras nipônicas em um programa oferecido pelo Ministério de Negócios Estrangeiros do Japão, que é mais conhecido pela sigla em inglês MOFA – Ministry of Foreign Affairs.

 

O “Programa de Convite ao Japão para Descendentes das Américas Latina e do Caribe” de 2018 foi o mais concorrido de todas as edições, contando com 390 candidatos somente pelo Consulado Geral do Japão em São Paulo, dentro os quais foram aprovados a jornalista Katia Kishi, joseense que mora em Campinas, e o auditor-fiscal Alexandre Kawase, natural da capital paulista.

 

Alexandre e Kátia almoçando com os alunos de Oizumi

 

Eles se juntaram a uma delegação formada por outros três brasileiros, uma peruana, um boliviano, uma argentina, uma dominicana e um mexicano para sete dias intensos de compromissos em Tóquio e Fukushima, incluindo visitas com altas autoridades políticas e representativas do Japão, como a realizada na residência oficial da Família Imperial Japonesa com a recepção do príncipe e da princesa Akishino.

 

Entre tantos compromissos, Alexandre Kawase destaca dois como marcantes: a visita ao Museu da Migração Japonesa ao Exterior em Yokohama, onde ele conta que teve a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a história do processo de migração japonesa e da vida dura que os primeiros imigrantes enfrentaram ao chegar em outros países. Na biblioteca do museu ele também teve a felicidade de encontrar o registro da família de seu avô paterno no livro da embarcação que o trouxe ao Brasil, além de encontrar uma mala de 1931 exposta no museu e identificada com a placa “Pertences da família Kawase”.

 

Os 10 bolsistas com o governador de Fukushima

 

O segundo momento que Alexandre considera como mais marcante foi a visita à escola de ensino fundamental Oizumi, aos arredores de Tóquio. Lá, os bolsistas do programa puderam interagir com os alunos e vivenciar uma típica manhã de aula. O auditor-fiscal explica que ficou admirado com o modelo de educação japonês voltado para a formação de jovens com princípios e capacidade de comunicação, cooperação, pensamento crítico e autonomia. Ao final do encontro, eles ainda almoçaram juntos com os alunos no refeitório da escola e vivenciaram suas rotinas como limpar os ambientes da escola para desenvolver o espírito de coletividade e organização.

 

Já para Kátia Kishi, os pontos mais importantes foram os encontros políticos, quando ela pode compreender e debater com especialistas a realidade japonesa, como a diplomacia exercida e ações voltadas para a América Latina, região que o governo japonês vê os nikkeis como pontes para uma boa relação bilateral com o Japão, motivo para que oportunidades como a que esses bolsistas tiveram e outras propostas de parcerias possam continuar acontecendo em uma política chamada “JUNTOS”, que foca nas relações do Japão com as comunidades nipônicas da América Latina e Caribe.

 

Outras atividades interessantes para a jornalista ocorreram durante a viagem à província de Fukushima, onde teve a oportunidade conhecer e presentear o governador Masao Uchibori, que explicou os esforços de reconstrução da província. Para entender mais e desmistificar que a província se resume ao acidente nuclear, amplamente divulgado no exterior, os bolsistas do programa MOFA ainda visitaram o Centro de Revitalização de Fukushima que concentra a história do acidente, quais áreas foram recuperadas e liberadas ou estão em processo, que garantem plantações seguras, e o investimento da província em energia sustentável. O contato com os vilarejos de Fukushima e os moradores também foi importante para aprenderem mais sobre a província com a boa receptividade japonesa e o tradicional saquê, já que o de Fukushima ganhou pela 5ª vez como o melhor de todo o Japão.

 

Vilarejo antigo coberto de neve em Fukushima

 

De volta ao Brasil, os dois jovens estão se organizando para divulgar o programa e aprendizados em palestras e redes sociais (já tem vídeos divulgados no canal no YouTube chamado Zatsudan Now!, por exemplo). Essas ações possibilitarão que mais brasileiros também tenham contato com esses conhecimentos e experiências sobre política, cultura e atualidade japonesa.

 

Sobre o programa:

 

O “Programa de Convite ao Japão para Descendentes das Américas Latina e do Caribe” teve sua 6ª edição em janeiro de 2018 e é todo oferecido em inglês, sendo que ele acontece duas vezes por ano com inscrições em julho e em novembro. O objetivo desse programa é aumentar a compreensão do Japão e suas políticas nos países com maiores comunidades nikkeis, utilizando como ponte de diálogo os jovens descendentes engajados nas atividades nipo-brasileiras. Os bolsistas não tiveram custos com a viagem, mas, em contrapartida, devem divulgar os aprendizados amplamente. (Saiba mais sobre o processo seletivo aqui)

 

Sobre os bolsistas:

 

A jurisdição atendida pelo Consulado Geral do Japão em São Paulo (Estados de SP, MT, MS e região do Triângulo Mineiro) é sempre a mais concorrida dos programas voltados para a comunidade nikkei, visto que é onde se encontra a maior concentração de descendentes japoneses da América Latina. Para o programa de Janeiro de 2018, o Consulado em São Paulo recebeu quase 400 inscrições para apenas duas vagas disponíveis, por exemplo. Confira a seguir o perfil geral dos bolsistas aprovados na edição.

 

 

Alexandre Kawase (38)

 

Auditor-Fiscal da Secretaria da Fazenda de São Paulo, formado em Engenharia Elétrica pela UNICAMP e pós-graduado em Gestão da Qualidade. Membro da JCI Brasil-Japão desde 2004. Ocupou diversos cargos na diretoria executiva e foi presidente em 2010. Nos últimos anos, tem ministrado palestras e treinamentos para novos membros, e neste ano foi um dos líderes atuantes do Projeto RevitaLiba, que tem como objetivo revitalizar e valorizar o bairro da Liberdade em São Paulo. Alexandre foi aprovado para participar do Programa após 3 tentativas.

Kátia Kishi (27)

 

Jornalista especializada em ciência e mestra em divulgação científica e cultural. Graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela UNESP, pós-graduada em Jornalismo Científico pela UNICAMP e com mestrado em Divulgação Científica e Cultural também pela UNICAMP. Possui um projeto de divulgação de cultura japonesa no YouTube chamado “Zatsudan Now!”, um canal curiosidades da cultura japonesa, onde compartilha vivências de intercambistas japoneses no Brasil e de brasileiros no Japão. Kátia foi aprovada para participar do Programa após 6 tentativas ininterruptas.