Combater todas as formas de preconceito. Essa foi uma das necessidades que a professora Angela Arcas Barbosa identificou logo nos primeiros dias de aula com os alunos do 5º ano da EPG Pedrinho e Narizinho, unidade escolar localizada no Jardim Bela Vista.
A proposta teve início imediato, assim que ela percebeu casos corriqueiros de desentendimentos entre os alunos. O jeito foi conversar, abrir uma roda de debates e deixar que todos expressassem suas opiniões sobre o que realmente achavam de algumas “brincadeiras” que, de engraçadas não tinham nada.
Rodas de conversa, tirinhas, vídeos, textos. Em busca de informações para os alunos, Angela descobriu que o preconceito é construído culturalmente.
Dados de um questionário feito pelo IBGE com alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, em 2015, mostram que, em São Paulo, mais de 24% dos alunos entrevistados afirmam que já “esculacharam, zombaram, mangaram, intimidaram ou caçoaram” colegas de escola a ponto de magoá-los ou até humilhá-los.
Plantar sementes boas
Em suas pesquisas, Angela também observou que tanto a escola quanto a família ocupam lugar central no combate ao bullying. “A escola é fundamental. Ela tem que ser a balizadora para mostrar que todos têm os mesmos direitos e são iguais, perante a lei e a sociedade, Então, os alunos compreendem que não é a cor, o cabelo ou a condição social que nos diferem do outro”, afirma a professora.
Num primeiro momento, os alunos entendiam que o bullying consistia apenas em formas de xingar, maltratar e colocar apelidos nos colegas, além das brincadeiras de gosto duvidoso.
A partir das discussões, os alunos também compreenderam que quem pratica o bullying, normalmente está descontente consigo mesmo e precisa superar.
“Muitas vezes, a pessoa que desconta em outros, xingando de gordo ou quatro-olhos, orelhudo, narigudo, no fundo, o que está tentando mostrar, é que ela mesma não se sente bem”, explica a aluna Fernanda Tchabelly, de 10 anos. A conclusão a que ela e sua colega Kethelyn chegaram é de que quem xinga não se sente muito bem consigo mesmo. “Então, essa pessoa também precisa de ajuda”, observa Kethelyn.
Síndrome de amor
Outro desafio de Angela foi a inclusão de alunos com deficiência na turma regular. Extremamente carinhoso, o aluno Ruan Matheus, de 9 anos, tem Síndrome de Down. O cromossomo a mais, conhecido como Trissomia do cromossoma 21, explica biologicamente o que o torna especial, mas é no convívio diário com professores e colegas que ele demonstra todo seu afeto.
Para incluir Ruan na turma, a professora elaborou atividades diferenciadas das quais toda a turma participa. “A inclusão é uma via de mão dupla. Ao incluir, todas elas colaboram com a sua própria inclusão, aprendem a se colocar no lugar do outro,” diz Angela.
Aluna do 4º ano do curso de Pedagogia da Anhanguera, a estagiária Jessica Domingos dos Reis achou muito interessante o modo como a professora Angela conduziu o debate com os alunos. “Estou aprendendo muito sobre inclusão aqui nessa escola. Com este projeto, pude perceber o quanto é importante o convívio de crianças deficientes com aquelas que não são”, conclui a estagiária.
Espalhando gentileza pela escola
Todo o debate e discussão com os alunos resultaram na elaboração de dois murais. Um deles traz frases de combate que chamam atenção para determinadas situações, como “Bullying comigo não”, “E se fosse com você”, “Pense antes de falar”, “Não seja violento”, entre tantas outras.
Juntos, a professora e os alunos elencaram um grupo de palavras bastante significativas como amor, respeito, amizade, carinho, compreensão e que têm tudo a ver com a proposta. Estas palavras resultaram no Mural das Gentilezas – local onde as palavras gentis ganham visibilidade para além do trabalho feito em sala de aula -, contagiando com positividade as demais turmas e professores da escola.
De acordo com a professora, o projeto não parou por ai. Agora, os alunos se dedicam a uma nova etapa de respeito, de consciência e de tomada de atitude. “Pensamos em espalhar a gentileza pela escola. Eles serão os disseminadores de atitudes positivas e proativas,” conta.